olhar101

Breves palavras introdutórias

De que maneira olhamos um país, um território, um povo com os seus diversos grupos sócio-culturais?
Nós quisemos olhar Moçambique de uma certa forma, para lá das imagens de guerra e fome, da penúria real que nos tolhe.
Quisemos olhar na cor, a paisagem humana e natural; na árvore, a sombra e a riqueza; no mar, a vida e o alimento. Quisemos olhar na palhota ou no palácio, na mesquita ou no templo cristão, o recanto acolhedor dos nossos hábitos, nossa história. Quisemos olhar na madeira que esculpimos, na dança que criamos, os seres pluriculturais que somos.
Quisemos olhar Moçambique de Quionga à Ponta do Ouro com o olhar da emoção, do amor por este chão, com o olhar do sorriso destas crianças, com o olhar da esperança que cresce no milheiral em bandeira ou que se abre em braços verdes nos coqueirais à beira-mar. Quisemos olhar Moçambique que sabemos ter.
Porém, que outras razões e limites para este nosso trabalho?
Se nos parágrafos anteriores expusemos já algumas razões deste livro, gostaríamos de expor melhor os caminhos que nos levarão a "Olhar Moçambique" desta maneira.
De facto, cansados de imagens dantescas da guerra, cansados de olhar por demais penoso, quisemos também ver, porque também existe, a outra face das nossas gentes e da nossa terra. Quisemos ver inclusive, a nossa história enriquecida de séculos de convivência.
Realmente, ao longo da sua história e mesmo antes de os portugueses a delimitarem com os contornos geográficos que actualmente possui, ou seja, depois do tratado de Berlim de 1885, Moçambique foi palco de diversas movimentações de povos, de muitas interpenetrações culturais que, a nosso ver, enriquecerão as raízes etno-culturais moçambicanas e fizeram-nos caminhar para outras sínteses e outras realidades políticas, sociais, económicas e culturais e donde certamente brotará a grande árvore nacional.
Os limites da nossa cobertura fotográfica não se cingem apenas ao número de páginas planificado para os três volumes que vão constituir "Olhar Moçambique". Estes limites estendem-se à própria dificuldade de cobertura de todos os aspectos considerados importantes da vida das províncias. O acesso a muitos lugares estava praticamente vedado devido à guerra que na altura acontecia por todo o país.
Contudo, mais do que uma mostra exaustiva de cada uma das 10 províncias que compõem o território nacional, interessou-nos salientar aqueles aspectos humanos e paisagísticos que caracterizam esses pedaços demarcados da terra moçambicana.
É com alegria que vos oferecemos estas páginas coloridas e estes textos explicativos na certeza de que na íris dos vossos olhos se reflectirá um outro Moçambique.