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ALGUNS TEXTOS, MAPAS E FOTOS

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UM EMBONDEIRO DE ENERGIA NUM "MILAGRE" GEOLÓGICO
   Há poucas zonas do mundo que se podem comparar ao espantoso quadrilátero geológico que é a Província de Tete nos seus contornos geográficos, Para lá da beleza ímpar das suas paisagens, que vai de algumas savanas agrestes e pedregosas plantadas de majestosos embondeiros seculares, até a montanhas abrindo-se em vales verdejantes ou serpenteadas pelos afluentes do Zambeze, rio que atravessa toda a província, o seu subsolo reúne um conjunto espantoso das mais ricas e variadas ocorrências minerais, facto que já mereceu de alguém que estudou aquele pedaço de terra moçambicana a seguinte frase: "Tete é um autêntico 'milagre' da natureza".
   Muito embora uma parte dos variadíssimos minerais não sejam propícios a uma exploração altamente rentável, acontece que eles existem e estão ali quase à flor do solo para quem quiser ver e minerar,
   Efectivamente, desde valiosas rochas de características sedimentares, eruptivas e metamórficas destacando-se entre muitas outras as areias caulinas, as arguas refractárias, o granito negro e o granito vermelho, passando por minerais importantes como o ouro, o cobre, o ferro, o níquel, o nuóbio, a grafite, a bauxite (a partir do qual se produz o alumínio) e os enormes jazigos de carvão, até às pedras preciosas como as ágatas e diamantes, a Província de Tete é também um embondeiro de energia hidráulica, pois, a partir do Zambeze e seus afluentes, se podem construir enormes barragens capazes de alimentar electricamente todo o país e grande parte da África Austral, como o demonstra a já construída e gigantesca barragem de Cahora Bassa, ex-libris da Província e do país.
Se isto acontece no plano ^geológico e energético, no agrícola e mesmo pesqueiro (resultante do enorme lago artificial criado pela barragem de Cahora Bassa) também as suas potencialidades são enormes.
   Como referência obrigatória e área de grande capacidade de produção agrícola ergue-se o planalto da Angónia, sem falar do rico planalto da Marávia e as terras dos distritos do Zumbo e Magoe, zona para todo o tipo de agricultura tropical e de clima temperado, Desde a batata e milho aos pomares de macieiras e pessegueiros, o planalto pode alimentar várias províncias.
   Para além de gado bovino, mas, sobretudo, caprino de que Tete é famosa, uma variadíssima fauna bravia espalha-se por ambos os lados do grande lago artificial do Zambeze. Este grande manancial de água doce, que agora cobre alguns jazigos minerais, predominantemente de carvão, pode vir a constituir também uma valiosa fonte de proteínas animais através do desenvolvimento de várias espécies piscícolas.
   Mas não se pode ver Tete apenas como uma pepita de ouro e celeiro agrícola, pois esta Província é também, e particularmente, um ponto de referência da nossa história, seja pela luta secular pela autonomia do país, seja pela ligação antiga ao Império do Monomotapa e os primeiros contactos comerciais com os portugueses ainda no séc. XVI, |
   Tete foi o local de uma das primeiras feitorias (mais feira do que feitoria) portuguesas no interior de Moçambique autorizadas pelo Monomotapa e foi ali também que se ergueram os primeiros templos católicos longe do litoral moçambicano, onde, hoje, as semi-ruínas da monumental missão e igreja de Boroma (embora de construção mais recente) é um símbolo dessa penetração cristã em Moçambique.
   Da ancestral resistência dos Mwene Mutapa (nome originário dos Monomotapa) até à dos miscigenados prazeiros Bongas; dos Nhungwes aos Nyanjas, etnicamente predominantes na província e donde brota a força cultural originária, até à sócio-antropologicamente mesclada cidade de Tete, a capital, o Alto Zambeze fervilha de história e cultura numa epopeia de lágrimas e sorrisos, de dores e esperanças.
   E essa história e cultura se descobrem também nos contos orais da população, na sua poesia cantada, na arquitectura ancestral das suas habitações de estacas e pedras com evidentes reminiscências zimbabweanas, e, também, na modernidade das suas estradas e edifícios de ferro e cimento.
   Rodopiando num semba ardente, ou contando histórias mágicas dos crocodilos do Zambeze, a população de Tete guarda os mistérios deste mundo do interior moçambicano, mas, simultaneamente, é e está aberta às inovações tecnológicas mais avançadas na certeza de uma vida melhor.

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Com estas águas se baptizam os crentes, nestas águas se lava a roupa; com estas águas se limpa e refresca o corpo, nestas águas se tira o pão-peixe para a mesa ao povo; com estas águas se humedece o barro e o cimento para as casas, nestas águas se fazem as seculares cerimónias tradicionais; com estas águas se irrigam os campos, nestas águas se fazem barragens que dão luz ao país; com estas águas se limpam as lágrimas, nestas águas espreitam os crocodilos as lavadeiras da margem.
Nestas e com estas águas se cria vida, se tece o destino, Do Zambeze nasce para cada Homem de Tete a simbologia e o mito, o tabu e a esperança, sedimentando antropologias em séculos de trabalho e mistério. Espírito da água, cultura do mundo.

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Igreja de Boroma, da missão católica do mesmo nome, a poucos quilómetros da cidade de Tete. De linhas arquitectónicas luso-jesuítas este grandioso templo - agora em degradação, mas com promessas de reconstrução - foi mandado erguer por Portaria do Governo Eclesiástico de 30 de Junho de 1885,
A sua construção durou até 1900 e o primeiro superior desta missão foi o padre jesuíta alemão João Baptista Iller. Boroma é uma marca histórica importante da missão dos padres jesuítas em Moçambique, uma congregação religiosa muito perseguida pelo próprio governo colonial durante a monarquia e depois na primeira República Portuguesa.

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Vila de Angónia, no planalto do mesmo nome, Artisticamente construída, esta fonte-nicho tem a marca inconfundível da arquitectura lusa em terras do interior moçambicano.
O planalto da Angónia, de clima de altitude, ameno no verão e frio no inverno tropical, tem um solo bastante fértil, onde se cultivam, com enorme sucesso, a batata reno, o milho híbrido, o trigo, e se plantam pomares de pessegueiros, ameixeiras, macieiras e outras frutíferas de zonas de clima temperado.

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Capaz de produzir, mesmo em tempo de seca, mais de 19.500 KWH de energia hidroeléctrica, Cahora Bassa é uma obra de inquestionável interesse nacional e de toda região da África Austral. Com 164 metros de altura a partir das fundações, ela deteve as águas do Zambeze originando uma albufeira com 2660 Km2 de área, com um comprimento de 270 kms e uma largura máxima de 30 km, somando uma capacidade útil de 52 milhões de metros cúbicos de água,
O controlo de cheias é feito por oito descarregadores de fundo (na imagem um deles está a funcionar) e um de superfície, com a capacidade total de escoamento de 14 mil metros cúbicos por segundo, quando o nível de água a montante estiver ao nível máximo de cheia. Um espanto esta obra!

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"O nhau estava forte. A princípio chegara um homem alto, tão alto que tocava com a cabeça as últimas folhas dos eucaliptos. Por detrás dele vinha uma jibóia. A seguir veio um contingente de dançarinos. Todos traziam máscaras medonhas, de animais e aves. Estavam nus. Os seus corpos eram pintados de um branco forte que lembrava a cal. Empunhavam azagaias, chuços, catanas, machados. Alguns tinham os flancos cobertos com pequenas esteiras de bambu, À primeira vista, poder-se-ia julgar que tinham os movimentos presos. Mas a agilidade é a condição primária do nhau".
Estas são palavras de Aníbal Aleluia, escritor moçambicano já falecido, e que no seu livro Mbelele e Outros Contos, precisamente no conto "o nhau tornou ao sertão", descreve como era a antiga dança nhau na região do Zóbuè, em Tete. Dança tabu, sobretudo o nhau chipeta, esta dança era também uma iniciação que exigia sacrifício, virilidade e heroísmo. Hoje é mais o nhau macanga que se dança com algumas misturas do outro, sem deixar de ser espectacular.
Nesta máscara algo medonha perpetua-se um rito, que uma cultura antiga esculpiu de enigmas.


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Edição de 1994

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